O hábito de São Francisco de Assis

sexta-feira, maio 30, 2014

BAIXE AQUI A TREZENA DE SANTO ANTONIO

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Hábito de São Francisco que está na Basílica de S. Francisco, em Assis, Itáilia

Por ser o primeiro que chama a atenção de quem se aproxima dos franciscanos, o tema do hábito suscita curiosidade e surpresa ao mesmo tempo, pois sua forma e cor variam segundo as distintas famílias franciscanas. Deve-se esclarecer, em primeiro lugar, que nenhuma das atuais Ordens ou congregações franciscanas, nem por forma nem por cor, veste o hábito de São Francisco, que era em forma de cruz e de lã cinza. O pano, com efeito, não era tingido, mas tecido com lã branca e negra natural misturadas que lhe dava o tom cinzento.

HÁBITO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

Há quem afirme que o Santo de Assis e seus companheiros no início não se vestiam de modo diferente dos pobres e camponeses de seu tempo, mas isso não é o que se deduz de seus escritos e biografias. É certo que o modo de vestir dos frades Menores (túnica larga, capuz, cordão e calças) era mais pobre que o de qualquer religioso daquele tempo, mas não por isso deixava de ser um distintivo religioso que os diferenciava dos seculares.

As duas Regras de São Francisco e os biógrafos do Santo falam da humildade e vileza do hábito dos Irmãos Menores, sem oferecer detalhes quanto à cor ou à forma da túnica e do capuz, pois o mais importante para Francisco e para seus companheiros era a modéstia e a pobreza. A segunda Regra impõe aos frades não julgar nem desprezar “aos que vestem roupas nobres e coloridas”, pelo que deduzimos que a cor devia ser natural. Graças aos biógrafos e às túnicas que se conservam de São Francisco sabemos que estas tinham forma de cruz ou de um TAU, como expressão de que o Frade Menor deve crucificar em si mesmo as paixões deste mundo.

Quanto à cor, só no Espelho de Perfeição lemos que o Santo preferia a cotovia entre todas as aves, porque “tem um capuz como os religiosos e é um pássaro humilde… Sua roupagem, ou seja, as plumas, têm a cor da terra, e ela dá exemplo para os religiosos de que não é necessário ter roupa nobre ou colorida, mas modesta no preço e na cor, como a terra, que é o elemento mais vulgar”. A terra, porém, como todos sabemos, tem uma infinidade de tonalidades. Tomás de Celano, no Tratado dos Milagres, fala de um “pano cinzento” como o dos cistercienses da Terra Santa, que Jacoba de Settesoli trouxe de Roma a Francisco moribundo. A única referência à cor do hábito do Santo a encontramos na Crônica de Rogério de Wendover (morto em 1236) e de Mateus de Paris, onde se diz que “os frades que se chamam menores… caminhavam descalços, com cinturão de corda, túnicas cinzas, largas até os calcanhares e remendadas, com um capuz grosseiro e áspero”.

Em um documento do ano 1233, o rei da Inglaterra ordenava ao visconde de Londres a aquisição de certa quantidade de panos, a metade de “blaunchet” o branco para os Dominicanos, e a metade de “griseng” ou cinza para os Menores. Em 1259, o visconde de Cerwich comprava também certos tecidos de “russet” para as túnicas dos frades Menores de Reading. O “russet” era o “rusetus pannus” de cor avermelhada, resultado da mistura natural de lã branca e parda. As Constituições de Narbona de 1260 estabeleciam que “as túnicas exteriores não fossem nem totalmente negras, nem totalmente brancas”, o qual desejava uma ampla margem de tonalidades de cinzas. Nos afrescos de Giotto da Basílica superior de Assis podemos ver, em uma mesma cena, hábitos acinzentados e róseos, porém sempre em tons claros. As Constituições Farinerias del 1354 só impõem que os superiores não permitam o uso de tecidos com “fios de diferentes cores, nem demasiado próximos ao branco ou ao negro”.

A variedade de tonalidades de hábito primitivo se devia, de um lado, à diversidade natural da cor da lã, de outro, ao fato de que os tecidos para as túnicas não eram confeccionados exclusivamente para os frades, mas estes os recebiam como esmola dos benfeitores. Eram eles, portanto, os que escolhiam a cor e a qualidade do tecido, embora sempre sob o controle do superior, segundo as Decretais de João XXII (1317) e Bento XII (1336).
Maior rigidez na cor se observa a partir da divisão da Ordem, ocorrida em 1517, sobretudo pelo valor simbólico do cinza, que recorda as cinzas e o pó de que somos feitos, e a penitência. O cinza foi a cor oficial para todos os franciscanos até meados do século XVIII. Tanto é assim que, devido às dificuldades para conseguir tal tecido em quantidade suficiente, houve um momento em que as Constituições dos Observantes e dos Capuchinhos ordenaram que cada província fabricasse seus próprios tecidos para conseguir a máxima uniformidade. O capítulo geral de 1694 da Regular Observância, por exemplo, ordenava “fabriquem-se tecidos em tudo semelhantes na cor e qualidade, na trama e na textura, tecidos com lã branca e negra misturada em tal proporção que resulte, a juízo dos especialistas, um pano cinzento como o vemos nos hábitos e capas de N. P. S. Francisco, S. Bernardino de Sena e S. João de Capistrano, os quais, embora se conservem em províncias e países diferentes, são de uma mesma cor cinza, mais ou menos claro”.

Nos Frades Menores Conventuais se nota certa tendência ao negro já na segunda metade do século XVIII, embora suas Constituições Urbanas, na edição de 1803 impunham o hábito da cor das cinzas. Esta prescrição desapareceu na edição de 1823, em parte porque com a supressão napoleônica, havendo-se extinguido as corporações religiosas, seus membros se viram obrigados a assumir o hábito talar negro do clero secular. Restaurada a Ordem, os frades preferiram continuar com a cor negra, ainda que hoje o cinza se está recuperando novamente, de maneira que assim se vestem quase todos os conventuais da Ásia, África e América, assim como os da Austrália e algumas províncias européias.

Os Frades Menores Observantes passaram da cor cinza a marrom há pouco mais de um século, na segunda metade do século XIX. Iniciou-se na França e se impôs para toda a Ordem no capítulo de Assis de 1895, quando Leão XIII reunificou em uma só as diferentes famílias reformadas: observantes, alcantarinos, recoletos e reformados (“A cor artificial das vestes exteriores se pareça à cor da lã natural negra com tendência ao vermelho, cor que em italiano se chama marrone, e em francês marron”).

Os Frades Menores Capuchinhos seguiram de algum modo a evolução dos Observantes, embora, para evitar qualquer diferença local, em 1912 se estabeleceu que a cor do hábito tinha que ser castanha, a mesmo que o dos observantes, contudo algo mais amarelado (“a cor deve ser castanha, em italiano castagno, em francês marron, em inglês chestnut, em alemão kastanienbraun, em espanhol castaño”).

O mais parecido na forma ao de São Francisco é o hábito dos Capuchinhos, por seu capuz alongado e costurado ao pescoço da túnica. O hábito dos Observantes se distingue por ser mais ajustado e pelo capuz solto que cai sobre os ombros em forma de caparão curto na frente e nos lados, e alargado atrás, até a cintura. O hábito dos Conventuais é parecido ao dos Observantes, porém o capuz é menor e o caparão mais baixo, até quase tocar os cotovelos (na regra diz: “caparão até o cíngulo”). O hábito dos Terciários Regulares ou frades da TOR era até poucos anos atrás da mesma forma e cor que o dos Conventuais, mas agora voltou à cor tradicional cinza, com caparão baixo e pontiagudo por trás e pela frente.

Mais recentemente surgiram algumas congregações franciscanas com hábitos diferentes, mas muito semelhantes aos já citados, com túnica e capuz cinza ou marrom. Há, no entanto, também tendendo ao celeste, como o dos Franciscanos da Imaculada, e inclusive de cor verde. Não obstante, apesar de as diferenças de forma e cor, o distintivo comum de todos os franciscanos e franciscanas, que os faz diferentes de qualquer outra Ordem ou Congregação da Igreja, é o uso exclusivo do cordão de lã branca, que Francisco escolheu para cingir a cintura, para cumprir fielmente o mandato de Cristo, que enviou a seus apóstolos pelo mundo “sem nada pelo caminho”, nem sequer o cinto (cf. Mt 10).

Quanto ao calçado, São Francisco caminhou sempre descalço, de acordo com o mandato de Jesus aos apóstolos: “não leveis sandálias…” Só nos dos últimos anos de sua vida, para ocultar as vendas ensangüentadas pelos estigmas dos pés, teve que levar sapatos de pele ou de pano, como se pode ver nas relíquias de Assis. A Regra só diz que os frades podem usar calçados em caso de necessidade. As sandálias, entretanto, se impuseram rapidamente, como se pode ver nas pinturas de Giotto, onde todos os frades, exceto Francisco, carregam o mesmo modelo. Mais tarde, os reformados que viviam nas ermidas começaram a usar certas sandálias com solas altas de madeira chamadas tamancos ou “zoccoli”, daí que na Itália, os Observantes fossem também conhecidos por muito tempo como frades “zoccolanti” (zocolantes).

(fonte:  www.franciscano.org.br)

  Clique aqui para o significado do TAU FRANCISCANO

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