Dois Papas e muita diplomacia quebraram embargo.
Discreta e poderosa. É assim que é vista a diplomacia da Santa Sé, o rosto internacional do minúsculo Estado do Vaticano, cuja influência e capacidade de intervenção é muito maior que a sua dimensão no mapa. Age sempre nos bastidores, distante dos holofotes, com luvas de pelica. Com uma rede de quase duas centenas de representações diplomáticas, muitas vezes, só a História dá o devido valor à Santa Sé. Desta vez, pela voz dos presidentes de Cuba e dos EUA, o papel dos diplomatas católicos veio de cima. É raro.
Foram 18 meses de conversações secretas, assume o próprio Vaticano. E a intervenção direta dos dois Papas. Já para não falar dos antecedentes, dos sucessivos sinais – uns públicos, outros privados – que a Santa Sé foi dando aos dois países, à procura de um entendimento. Da lista dos mais recentes faz parte a visita de Bento XVI a Cuba, onde celebrou uma missa em plena Praça da Revolução, em Havana, símbolo máximo do regime de Fidel Castro. A visita de Bento XVI foi discreta, como o Papa hemérito, mas cheia de significado. O Vaticano gostou do que viu e ouviu em 2012.
Aparentemente, os encontros com Raul Castro e com o próprio Fidel correram tão bem que, no balanço da viagem, o porta-voz do Vaticano não escondia o entusiasmo. “Espera-se que uma visita do Papa seja um impulso para passos ulteriores, quer no que se refere à vida da Igreja, quer no que se refere ao bem de toda a sociedade. Depois se avaliarão os resultados nos próximos anos”.
Frederico Lombardi, o jesuíta que dá voz à Igreja e ao Papa, não é dado a precipitações, nem muito menos a falsos entusiasmos. Por isso, quando disse que “foram dados passos, num caminho em que ainda há muitos para dar”, mostrava que a diplomacia da Santa Sé tinha sido posta em acção. Com as cautelas, é certo, mas com avisos à navegação: “o Papa não é dono das leis de um país, nem das soluções políticas, económcas ou legislativas de um País. Por isso, não pode intervir de forma direta”.
A mensagem estava dada, o resto era feito nos bastidores. Com alguns sinais exteriores que iam sendo semeados ao mundo. Como em setembro, quando Francisco enviou uma carta ao povo cubano, ao cuidado da Conferência Episcopal. A pretexto da Festa de Nossa Senhora, e num discurso absolutamente religioso, não deixou de usar três palavras chave. Exortava os cubanos a “alegrar-se, levantar-se e a preserverar”. Se para bom entendedor, meia palavra basta, três foram mais do que suficientes para que a própria Imprensa cubana desse destaque ao convite.
Em outubro, duas delegações de Cuba e dos Estados Unidos reuniram-se em Roma e a Santa Sé tornou pública a oferta dos “seus bons ofícios para favorecer um diálogo construtivo sobre temas delicados”. Em nota oficial, garantia ainda que do encontro “surgiram soluções satisfatórias para ambas as partes”.
A libertação dos prisioneiros foi o ponto de viragem para uma mudança histórica nas relações diplomáticas entre os dois países. E, o peso da influência do Vaticano, foi claro nas declarações proferidas por Barak Obama e Raul Castro, ambos muito elogiosos para o Papa Francisco. Como a própria escolha da data para o anúncio do retomar das relações diplomáticas: precisamente o dia do aniversário de 78 anos do Papa. Um grande presente, sem dúvida, para o Papa Francisco.
(fonte: www.publico.pt)
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